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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Kagrra (神楽) - [渦]

Everything - Lifehouse



Find me here
And speak to me
I want to feel you
I need to hear you
You are the light
That's leading me to the place
Where I'll find peace... Again
You are the strength
That keeps me walking
You are the hope
That keeps me trusting
You are the life
To my soul
You are my purpose
You're everything
And how can I stand here with you
And not be moved by you?
Would you tell me how could it be any better than this?
You calm the storms
And you give me rest
You hold me in your hands
You won't let me fall
You steal my heart
And you take my breath away
Would you take me in
Take me deeper, now
And how can I stand here with you
And not be moved by you
Would you tell me how could it be any better than this
And how can I stand here with you
And not be moved by you
Would you tell me how could it be any better than this
Cause you're all I want
You're all I need
You're everything, everything
You're all I want
You're all I need
You're everything, everything
You're all I want
You're all I need
You're everything, everything
You're all I want
You're all I need
Everything, everything
And how can I stand here with you
And not be moved by you
Would you tell me how could it be any better than this
And how can I stand here with you
And not be moved by you
Would you tell me how could it be any better any better than this
And how can I stand here with you
And not be moved by you
Would you tell me how could it be any better than this
Would you tell me how could it be any better than this


250 day music challenge - 38

38 - A song that is conceptual:

Hakuri - the GazettE

http://www.youtube.com/watch?v=irdd3ZLnnZ4

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Nasce uma Escritora

Quando estava na terceira série do primeiro grau, li um texto de Drummond chamado Um Escritor Nasce. Eu achei um texto muito engraçado na época, pois ele dizia ter nascido numa tarde de julho, numa aula de geografia. Eu não compreendia o que queria dizer, afinal, o que se compreende de Drummond, literatura ou do mundo aos nove anos? Mas nunca me esqueci daquele texto.

            Tornei a lê-lo mais tarde e finalmente ele me encontrou e eu encontrei o seu significado. Por mais que Drummond falasse de si mesmo, ele também falava de mim.

            Eu não nasci numa aula de geografia, simplesmente nasci, primeiro num verso, depois numa rima e só então, um poema. E o primeiro se chamava Soneto da Culpa, como me esquecer dele?

            Quando percebi, já não conseguia mais parar, escrever era muito mais que um vício, era uma necessidade, minha segunda natureza. Eu estava sempre com uma caneta na mão. E no papel, eu não só vivi minhas aventuras e sonhos, despejei nele todos os meus pensamentos e sentimentos.

            Cada vez que termino de escrever um poema ou uma história, eu leio e é uma coisa nova, fantástica, que me surpreende e emociona, como se eu não conhecesse, como se fosse de alguém que muito admiro. E é.

            Eu acho corajoso escrever, porque é a única arte que não se ensina, não há técnica, ou se tem ou não se tem o dom, nasce-se com ele.

            Esse texto poderia ter sido escrito por qualquer autor, conhecido, experiente, vivido. Calhou de ter me caído em mãos e nos meus dezoito anos poder relatar uma história parecida com aquela de Drummond. Porque nasci!


Além do Tempo

                Há quanto tempo que eu tive esse sonho? Há quanto tempo que eu me liguei a você?
                Parece que minha vida sempre foi essa, sempre foi esse mundo de sonhos... Sempre teve a mesma melodia...
                A melodia tão doce que acalenta os meus sonhos! Há quanto tempo eu espero por você? Eu rezo por você? Eu dedico cada pensamento só pra você?
                Mesmo estando separados, eu te sinto em cada lugar que eu vou... Por que eu não tenho asas? Eu poderia voar até você, poderia acabar logo com a distância que me afasta de você...
                Se a única razão de eu ter nascido foi para que eu conhecesse você, não acha que eu seria capaz de mudar tudo por você? Que eu seria capaz focar todos os meus pensamentos em você? E aguentar tudo o que fosse preciso para estar ao seu lado?
                Eu guardo comigo todas as lembranças, para um dia poder dividi-las com você... Mesmo que estejamos separados, vamos para um futuro cheio de memórias!
                Porque todas as milhas que nos separam desaparecem agora, desaparecem cada vez que eu sinto nossos corações conectados...
                Eu vivo a minha vida apenas pelo amanhã porque, sem você aqui, não há nenhuma cor... Por mais que eu saiba escrever palavras belas, por mais que eu as escreva sem parar, não consigo passar este amor em palavras...
                Este amor que é grande demais! Este amor que consegue ser maior do que tudo! Este amor que torna possível nossos pensamentos estarem ligados mesmo tão distantes um do outro...
                Eu queria congelar o tempo para ficarmos juntos eternamente, numa paisagem pintada de cores serenas...
                Não importa mais o que os outros dizem, não importa que acreditar nisso me faça parecer boba... Você pode ficar aqui... Porque, sem você aqui, faz mal, mal de chegar a morrer e eu não posso mais conviver com a ideia de viver sem você!
                Por favor, me leve de volta à memória, ao sonho... Porque esse ciúme silencioso se derrama no sonho tão lindo que nós dois sonhamos juntos...
                Dissipe a minha solidão que para o tempo e me mantém aqui presa longe dos seus braços... Por que nós dois não podemos dividir logo nossas felicidades? O que tanto guarda o futuro pra que tenhamos de pagar um preço tão alto para enfim ficarmos juntos?
                Esteja você onde estiver, eu vou buscar a nossa felicidade, porque é você quem está ao meu lado para me aconchegar em paz... É você que sempre mantém contato para que eu não me sinta sozinha... É você que se esforça para expressar com suas notas o que as palavras não são capazes de dizer!
                Eu ainda continuo viva... Eu estou tentando ser o mais feliz nesse mundo, nessa distorção... Porque os meus pensamentos voam até você, porque não há necessidade de temer a distância...
                Hoje, a distância é o mais fácil de vencer quando se ama tão apaixonadamente alguém... É o mais fácil de superar quando nossas almas acreditam na eternidade, acreditam uma na outra e acreditam que vão se encontrar...
                E, mesmo que não haja amanhã, não terei nenhum arrependimento porque eu não tenho nada em minha vida que valha tanto quanto você ou esse sonho ou esse amor...
                E, apesar de apenas rir dessa distância borrada ser triste demais, não me arrependerei nunca...
                Há quanto tempo eu me tornei assim tão forte? Tão capaz de enfrentar o mundo? Eu não seria capaz de nada disso se não fosse por você!
                Pra você, que é minha coisa mais importante... Para o vento, que continuará o mesmo para sempre... Para essa noite, que nunca terminará... Para a manhã, que sempre irá chegar... Para sempre e eternamente... Eu rezo... Ao seu lado, até o fim do mundo...
                O que aconteceu com a ilusão e a beleza de viver? O que aconteceu com aquele silêncio que me segue? O que aconteceu com o quadro da solidão? Aquele que vi em cores misturadas... O quadro em que eu me misturei a você como um pôr do sol cheio de lágrimas...
                Por que eu não estou com você? Por que você não está comigo? Há quanto tempo nós estamos separados?
                Se eu te chamar, como você pode não me responder, se nós nos ligamos por além do céu? Por além da vida?
                Como podem duvidar que isso é amor e que isso é real? Tão para você e pra mim quanto os desastres que todos acham que é a realidade.
                Há quanto tempo você sabe de mim? Há quanto tempo eu sonho com você?

                Eu estarei para sempre buscando você porque nós sabemos o que amar além do tempo...

O que Você Faz

                Eu já não sei mais viver sem você e não importa o que eu faça, não dá mais pra separar a minha vida da sua, não dá pra imaginar meu mundo sem você.
                Só de pensar nisso meu coração já dói. Pensar em um mundo onde você não exista, um mundo onde eu não escute a sua voz ou veja você é doloroso demais.
                Mesmo que estejamos há milhas de distância é bom saber como você está, é bom ver que você está bem, bom vê-lo tão lindo todas as vezes, vê-lo brilhar mesmo tão longe.
                Eu tento não me preocupar com nossa distância porque eu sei que estamos sempre juntos e sei que você me ouve e sente. Sei que, se eu precisar, você estará aqui comigo. Sei que, se eu me sentir sozinha, você virá correndo e me pegará nos braços, me fará sorrir, me dirá que sempre ficaremos juntos.
                Porque é o que você faz comigo, me faz me sentir bem quando nada mais faz. É o que você faz comigo, me faz ver que tudo pode melhorar.
                Eu sei que tudo está só começando e que o difícil ainda está por vir. Mas você não precisa pedir para que eu confie em você para que eu lhe confie minha vida e todos os meus sonhos.
                Eu sei que você vem, sei que não me deixará esperando mais do que a vida já nos fez esperar, sei que dará um jeito dos nossos destinos logo se cruzarem.
                Eu confio em você e sei que ficaremos bem, que ficaremos juntos para sempre e seremos felizes. Eu confio em sua palavra e lhe entrego meu coração, seguro a sua mão para que eu guie e juntos conseguiremos tudo que sempre quisemos.
                Ainda há muito que ser dito e eu escuto você em cada nota que você toca, escuto seu sono, seu despertar, sua tristeza e sua felicidade. Escuto quando quer me confortar e nunca me deixar esquecer que não importa a distância nem o que os outros dizem, a única verdade do mundo é que esse amor é o mais importante e nós estamos unidos por forças desconhecidas neste mundo.
                É por isso que ninguém entende como nos sentimos e como temos tanta certeza um do outro, mas eu sei que quando lhe escuto tira o meu fôlego todas as vezes porque o sinto comigo e eu fico mais apaixonada sempre que escuto novamente. E mais. E mais. E mais.
                Porque é isso que você faz comigo, me faz me sentir mais viva e querer viver esse amor com mais intensidade que todos os romances já conhecidos, maior que Romeu e Julieta e sua trágica história de amor.
                É o que você faz comigo, me faz querer ensinar aos clássicos o que é de fato amar. Ensinar Edward e Bella o que é superar tudo pra viver uma história de amor.
                A distância sempre parece maior como se o próprio tempo nos separasse. Mas eu sei que há meios de vencer tantas milhas, por terra, mar ou ar e eu andaria até você se fosse preciso.
                E eu sei o que todos dirão sobre isso, sei que nos acharão malucos, sei que vão rir de nós, mas isso é só porque não entendem, porque nunca se sentiram assim, nunca tiveram um sentimento assim, que é mais forte que a vida, que o destino, que o mundo, que o tempo...
                Um amor tão forte que não precisa ser dito, tão forte que eu sinto você sem estar aqui e você sabe de mim só quando eu penso em você. Mas eles podem rir porque nós também riremos deles quando estivermos juntos e tudo o que planejamos ser real. Nós riremos por estarmos certos por ter confiança um no outro e não desistir dos nossos sonhos, apesar do que os outros dizem.
                Eu acredito em você e você em mim e mesmo que demore um pouco, mesmo que pareça tão difícil, que não suportemos, depois que tudo passar e finalmente estarmos juntos, o mundo será o que deve ser, será o que nunca foi e será o melhor possível e tudo por causa do nosso amor.
                Porque é isso que você faz comigo, me faz ter paciência pra esperar aqui, mesmo que isso me frustre e me deixe e me deixe infeliz sem você, eu espero. É isso que você faz comigo, me faz viver melhor porque me fez descobrir o que é importante, que tudo é muito pequeno quando se consegue amar alguém como eu amo você e isso é felicidade.
                Eu não posso lhe prometer que não sentirei sua falta, porque eu durmo e acordo com meus pensamentos em você. Não posso prometer isso porque dói de verdade não tê-lo aqui, mas eu prometo, prometo que vou esperar. Esperar pacientemente até que eu termine aqui o que preciso pra ir te encontrar, enquanto você está fazendo história.       
                E tudo é por você, tudo o que eu faço, tudo o que eu sonho, tudo o que eu espero, tudo o que respiro... É tudo por você e você é o que importa para que eu viva, pra que minha vida comece e nós possamos fazer o que queremos.
                Eu quero que você saiba que tudo o que eu sempre fiz, desde o começo, sempre construiu meu caminho pra chegar até você, tudo o que eu sempre fiz foi pra te encontrar, foi para esse momento, foi para esse encontro...
                Que você saiba que é pra você que eu escrevi isso, pra você que eu dediquei cada uma dessas letras, dessas palavras e todos os meus sentimentos e assim será até o fim dos meus dias...
                É pra você e por você...

                Porque é o que você faz comigo!

Olhos Tristes

  Eu não corri para o quarto como muitas personagens faziam nos livros que eu lera várias vezes, nem bati a porta... Tinha que fingir normalidade se não queria chamar atenção.
            Nem chorar como nos livros eu podia, tinha que ser silenciosamente, escondida. Porque ninguém entenderia minha tristeza, minha dor. E eu não podia culpá-los... Eu mesma não entendia...
            Sentei-me no sofá do quarto, pegando um livro na escrivaninha, abrindo numa parte que me ajudaria a explicar as lágrimas se fossem flagradas.
            O dia estava lindo! O céu completamente limpo, sem nenhuma nuvem, num azul claro até onde podia enxergar... O sol entrava no quarto da maneira que eu tanto gostava: tocando delicadamente cada móvel, como um abraço suave... Um vento delicioso refrescava o calor. Não podia ser mais perfeito.
            Como uma boa libriana que acredita piamente que horóscopo é bobagem, eu atribuía o paradoxo em minha cabeça e meu estado de espírito aos meus inimigos número 1: os hormônios!
            Os últimos dias tinham sido torturantes... Não era uma dor em meu peito que me incomodava. Era em minha consciência... Minha maldita consciência tão atenta! E ela andava ruidosa ultimamente, talvez pelo fato de que tenha se desacostumado a convivência humana pelo ano de reclusão... O meu torpor!
            Era bem capaz de ter esquecido como era a vida real, o mundo extenso das outras pessoas... Porque era mais fácil aceitar que as histórias que eu lia tinham rumos diferentes dos meus quando eu não podia ver a vida dos outros... Quando meu mundo era tudo o que eu precisava suportar...
            Eu sabia por que não admitia a ninguém além de mim mesma o quanto doía estar sozinha... Eu não queria ouvir o que me diriam. Não queria ser consolada com frases como “é só não procurar” ou “vai acontecer com você” ou “tenha paciência” nem “agora você tem que se concentrar em você mesma”... Porque nunca me consolaram em nada!
            Eu estava sozinha! Era isso que minha consciência gritava sem parar... E isso me fazia odiar cada minuto que minha sádica imaginação gastara nos últimos sete anos com um mundo lindo de fantasias impossíveis!
            Nesse minuto eu não sabia por que chorava mais: se era por odiar ter me rendido tanto às fantasias que não aconteciam comigo, por me permitir que isso me afetasse tanto ou porque eu não tinha ninguém ali que viria correndo me consolar!
            Eu simplesmente chorava agoniada, esperando que a dor saísse de meus olhos, meus olhos permanentemente tristes, sabendo que ninguém entraria preocupado pela minha janela, ninguém me acolheria nos braços, ninguém diria que me amava... Ninguém! Ninguém enxugaria minhas lágrimas carinhosamente, dizendo que me preferia sorrindo... Porque eu não estaria chorando se tivesse alguém...
            Eu não era forte, nem atirada, nem burra, nem sedutora... O que terminaria com a minha angustiante solidão se eu mesma me condenara à ela? Era um fardo muito maior do que eu agüentava e eu tinha de mantê-lo em silêncio, porque era uma gota num oceano de dor em que o mundo se afogava... Mas era minha dor! Era a dor de meus pensamentos, de meu sono, de meus olhos e de meu sorriso... A dor que tornava meus olhos cada vez mais tristes...

Adeus

Nós estávamos os dois ali, parados um diante do outro num silêncio que há muito tempo deixou de me incomodar.

            Eu encarava suas feições cautelosamente, sem que ele percebesse. Ele fitava algo distante pela janela, ou talvez algo dentro de si mesmo.

            Meus olhos teimavam em encher de lágrimas, que eu enxugava sem parar com as costas das mãos silenciosamente.

            Era, pelo menos pra mim, um silêncio triste. Nunca fora um silêncio de ‘mútua compreensão’. Não. Era um silêncio de duas pessoas que desistiram de tentar quebrá-lo.

            Ele ainda era o mesmo. Ou talvez a convivência não me permitiu perceber os sinais da velhice que desenhavam uma nova máscara sobre seu rosto. Mas ainda tinha os mesmos olhos profundos, aqueles olhos que tantas vezes encontraram os meus por breves momentos de amizade... Os mesmos olhos que sempre fugiram dos meus por medo...

            Suas mãos eram as mesmas, fortes, seguras, habilidosas... Mãos expressivas, mãos que falavam mais que a boca, que sempre entregaram o que vagava solto pela mente, enfurecendo-o, preocupando-o.

            Os cabelos brancos e os fios brancos em sua barba eram adagas do tempo que feriam sua destreza e sua segurança. Afugentando a postura da impassibilidade que eu conhecia e acolhendo uma nova imagem de solidão.

            Naquele momento não havia vestígios de reflexão, apesar do profundo silêncio. Eu tinha me armado até os dentes, me munido de armas como confiança e certeza e afastado qualquer um que pudesse se tornar vitima daquela batalha que eu esperava. A fúria que eu aguardava em silêncio, mas eu sabia que chegaria.

            Eu tinha me jogado naquela que seria nossa última partida de xadrez. Uma partida onde duelavam a minha mágoa e o seu medo.

            Aquele medo que sempre me machucou. Aquela culpa que eu sentia pesar em meus ombros todas as vezes que obriguei meu olhar a sustentar o dele. Todas as palavras que eu engolira por respeito e, até mesmo, por admiração.

            Não havia nada do que devesse me envergonhar. Eu nunca tinha feito nada de errado. Nunca tinha me esforçado em causar sua ira. Nunca tinha afrontado sua autoridade por causas erradas. E nunca, nunca tinha desejado a sua posição e o seu poder.

            As minhas chagas ardiam, minhas cicatrizes latejavam e eu parecia um soldado mutilado que voltava da guerra.

            Sua respiração estava serena, mas ele também tinha lágrimas nos olhos. Eu encarei o chão, como sempre fazia perto dele, dando-lhe a oportunidade de me olhar por algum tempo.

            Tempo... Quanto tempo tinha se passado? O tempo era um conceito filosófico pra nós dois. Um conceito psicológico... Como tantos outros que não existiam... Como diálogo.

            Diálogo que ele nem percebeu deixar morrer. Uma morte lenta e gradual. E nenhum das partes fez alguma coisa pra impedir. Talvez fosse mais minha culpa que dele, porque eu percebi o que estava acontecendo e ainda assim, deixei acontecer.

            Eu sempre esperava temerosa sua reação. Talvez fosse minha ansiedade, mas era a primeira vez que eu o via demorar tanto.

            Sua expressão era séria, a minha, imóvel. Não era uma afronta, não era uma guerra, não era uma despedida. Não havia na atmosfera da sala a tristeza profunda que sangrava meu coração.

            Eu sempre sentira tudo de uma vez e ele, uma por vez. Tentava entender, captar sua linha de raciocínio pra decifrar seu próximo movimento. A expectativa sempre me traía, me deixando nervosa.

            Ele sacudiu a cabeça vagarosamente e deu de ombros, respirando profundamente.

            Eu não entendi, ainda assim, assenti, também enchendo os pulmões.

            Uma ruptura quase indolor. Sem palavras, sem gestos, sem nada. Afinal, o que era distância? Era uma distância física, mas não era diferente da distância que por tantos anos nos separou...

            Ainda assim, eu esperava ao menos um abraço. Um abraço de despedida...

            Mas me levantei resoluta, indo em direção a porta, permitindo as lágrimas derramarem.

            – Então... Isso é um adeus? – ele sussurrou.

            – Adeus – repeti, atravessando a porta e saindo.

Síndrome de Capitu

E tudo sempre se resumiu em Capitu... Mesmo sem seus olhos de ressaca, olhos de cigana oblíqua e dissimulada, mesmo tendo olhos apenas carregados de uma tristeza disforme, sempre tive ares de Capitu.
Ares de quem não abaixa a cabeça, de quem defende o que pensa, o que quer. E mesmo antes de conhecê-la, sem saber de sua história de amor mal acabada, já sentia sua ambição em minhas veias, suas ideias e seus ideais querendo brotar em mim.
E é ela que me guia, que me impulsiona pra frente. É nela que se encontra a minha determinação e a minha coragem. A minha força para dizer “não”. Porque se eu nasci graças a Drummond, hoje sou o que sou pelas mãos delicadas e astutas de Capitu.
Porque, mesmo depois de cem anos, Capitu é o que dá vida ao eterno mistério de sua obra, dá pauta a todas as discussões e é ela quem mais arrebanha seguidores e defensores com o passar dos anos.
Capitu não é o espírito do feminismo, eu não a chamaria assim. Ela tem a garra das mulheres que lutam por amor, das mulheres que mesmo realizadas e donas de suas próprias vidas sonham com o amor.
Tudo em mim se resume à Capitu. Minha ironia, meu pensamento, meu discernimento. Vejo em minhas mãos, gestos de Capitu; em minha boca, suas palavras. Tento incansavelmente imitar o lampejo de seus olhares. A luminosidade de Capitu.
Mas chega a ser ousadia me comparar à musa do Machado... Porque, se em minha mente eu me moldo à sua imagem, quando me olho no espelho tenho e encarar a realidade de minhas feições sem graça. Quando me vejo despida de sua sabedoria e proteção, quando retorno ao cinzento mundo fora dos livros e dos sonhos é que vejo a diferença entre Capitu e eu: sua vida era cheia de aventuras, de amores proibidos, tramas e intrigas... Era uma vida. Minha vida é parada, como se os dias fossem apenas folhas do calendário, sem ligação nenhuma entre si... Uma vida de papel...
Eu anseio por mais, pelo céu, pelo mundo dos meus sonhos, onde eu sou intensamente feliz, onde eu faço falta, onde as pessoas se importam... Onde eu posso ser eu mesma sem ser mal interpretada.
Quero uma vida de verdade, não quero um príncipe encantado num cavalo branco. Não quero alguém que me dê flores todos os dias ou que me leve pra dançar, não quero metáforas desperdiçadas que descrevam seu amor.
Não quero Bentinho! Não quero seus ciúmes, suas desconfianças, suas criancices! Não quero um amigo de infância que penteie meus cabelos, roube-me beijos inexperientes, que me compre cocadas!
Não quero a felicidade numa garrafa! Se me derem sorte líquida, eu farei bom proveito, mas felicidade? Não é algo garantido! É algo que se constrói! É feito de escolhas!
Será que Bentinho escolheu afastar Capitu? Escolheu ser dela a culpa pelo fracasso próprio? Será que ele escolheu matá-la de amores? Será que a pessoa a quem se confia a felicidade garantida não tomará as decisões do seu sofrimento?
Não quero segurança! Basta um olhar, um sorriso um gesto! Quero os amores impossíveis, os verdadeiros! Não quero conformidade em minha vida! Terminar meus estudos, ter um emprego tranquilo, lecionar, casar, cozinhar e criar... Não! Não quero pequenos “lobinhos” correndo pela casa com suas peles quentes, pegando-me na saia, pedindo colo...
Quero aventura! Quero sentir a excitação e a ansiedade se espalhando por minhas veias, quero o frio na barriga, quero ser beijada até ficar sem ar! Quero alguém que me arrepie com um olhar, não alguém que não me diz nada, que não me faz sentir nada.
Quero o mar agitado que arrastou o nadador da manhã! Quero o delírio e a paixão antes de tudo! Quero fazer o que nasci pra fazer e não me contentar ao que for conveniente!
É dela toda essa lucidez, toda essa certeza do que quero e o que não quero pra mim. É de Capitu... E, se no fim, tudo se resume a ela, talvez enraizado em mim estejam seus sonhos e talvez em mim se encontre a síndrome de Capitu!

Carta ao Grande Amor

Quando tudo é muito pouco para se dizer e você vê que simplesmente é difícil respirar você só para em silêncio e admira porque o amor se apropria de olhares e faz com que todas as palavras percam qualquer sentido.

            Porque qualquer coisa que se tenha a dizer desaparece da mente com o brilho de seu olhar qualquer fio de sanidade é terminantemente rompido e não é mais a Terra te mantém aqui... É ELE e só ele.

            Essa linda razão de viver, que hoje é minha única razão de continuar, que faz tudo parecer grande demais. A sua distância e sua ausência fazem com que todo segundo seja muito tempo, um tempo que dura mais do que posso suportar.

            Porque esse sonho que eu não desejo que termine, deseja mais a realidade transformar. Transformar em algo mais lindo que o sonho e ser a razão pra sempre acordar. Ser a verdade que mata toda a mentira, ser a paz que termina com o meu sofrer, ser a felicidade que eu busco avidamente, ser o que acaba com a minha solidão, ser a vida que falta em meu peito...

            Ser tudo aquilo que você já é, mesmo longe dos meus braços, mesmo longe dos meus olhos, longe dos meus lábios, de meus dedos...

            Você é o que nenhum outro nunca será e eu temo que isso seja a única verdade que eu conhecerei, que eu esteja fadada a ficar assim e a esperar aqui, sem a certeza de um amanhã.

            Eu temo mais que tudo nunca conseguir me liberar, nunca conseguir fugir de seus olhos penetrantes, de seus gestos deslumbrantes de seu sorriso encantador, de suas notas perfeitas...

            E me prender tanto a esse deus que me esqueça de viver, que esqueça de amar, esqueça tudo! Porque eu jamais encontraria em outro alguém tanto de mim mesma, tanto conforto, tanta paixão, tanta dedicação...

            E eu odeio esse sentimento, odeio ser presa dele, odeio ser sua prisioneira porque ele está tão longe e porque ele me faz ouvir tantas vezes as pessoas me dizendo que eu nunca o alcançarei que é um sonho impossível e infantil e que eu devia me prender à realidade, ser adulta de uma vez.

            Por me fazer escutar isso sozinha é que não me importo de acordá-lo todas as noites com meu choro desesperado, chamando por ele e acabando com sua paz.

            Porque, eu ainda sei onde encontrá-lo, mas ele não sabe onde procurar pela pessoa que o chama que implora por sua presença, por seus carinhos por seu conforto...

            Ele não sabe onde está a dona da voz que lhe pede socorro e que diz que o ama e que mexe com seus sonhos e que espera por sua vinda...

            Eu ainda sonho e quero sonhar mais... Quero a garantia da felicidade e só pode ser a felicidade que você traz! Porque, desde que eu o conheci, todos os outros deixaram de existir pra mim!

             E é só você que eu quero só você que eu amo, só você que eu quero amar, só você que eu amarei...

            Será que você sabe como é isso? Será que seu coração está me sentindo agora? Será que está sentindo meu amor? Esse amor que não para de crescer e que nos liga de formas inimagináveis vencendo tudo: distância, obstáculos, tempo...

            Esse amor lindo que eu já não tenho mais palavras: pra descrever pra entender pra defender...

            Será que você as encontraria? Será que saberia expressar o que meu coração grita? Será que suas canções serão sobre mim? Será que o nosso dia está próximo?

            É com isso que eu convivo, com todas essas questões em minha mente, dia após dia, esperando por você caminhando rumo ao nosso futuro, desejando que a minha espera, a minha solidão, os meus sacrifícios sejam recompensados.

            Eu vou fingindo enquanto isso, fingindo viver fingindo ser feliz, fingindo estar segura e buscando um futuro só meu, fingindo que não sonho com você e que não penso em você o tempo todo, que não espero que me encontre e me tire daqui e me leve pra longe.

            Eu não confesso isso a ninguém, mas não é por vergonha é por medo... Medo que o feitiço se quebre antes de acontecer, medo de que se o silêncio for partido, nada disso se realize e eu viva pra sempre uma vida vazia longe do meu sol.

            Porque eu mesma não sou a protagonista de minha vida, eu apenas narro... Você é o centro de tudo! E sem você aqui minha história, minha história não pode começar.

            Sem você, eu terminarei meus dias mergulhada em tristeza e solidão...

            Eu te imploro que realize todos os meus sonhos e entre em minha vida como um meteoro, trazendo sua beleza e sua luz, acabando com a escuridão, com a tristeza e me levando com você.

            Eu rezo todas as noites por você pra que esteja bem, que esteja protegido e feliz... Eu me preocupo com você, fico quase louca sem notícias... É nessa hora que penso no quanto essa distância é injusta, o quanto me mata não estarão seu lado...

            Mas eu penso, se o destino te colocou no meu caminho, nós vamos nos encontrar. Porque nossas vidas já estão ligadas porque sua alma completa a minha e o meu coração precisa do seu...

            Eu nunca fui de grandes declarações nunca escrevi cartas de amor, mas quando eu amo, me doo por inteiro, sem ter medo de sentir.

            E só por você, eu conjugaria todos os atos e me entregaria sem temer... Só por você, eu gritaria aos quatro ventos que faço tudo pra te merecer.

            Como pode existir um amor tão grande assim dentro de mim? Às vezes, pareço louca por te amar tanto, mas uma coisa eu te prometo: prometo não desistir de nós dois, prometo nunca me esquecer de você e, o mais importante, eu prometo que vou te amar por toda a minha vida, meu grande amor!

Desculpe e obrigado...

E nós dois a perdemos...

                Perdemos seu primeiro sorriso e a primeira palavrinha, perdemos quando engatinhou e quando deu o primeiro passinho... A primeira boneca que amou e o primeiro passeio, perdemos o primeiro dia da escola e o primeiro aniversário...

                Não haverá mais seus sonhos pra iluminar seus olhos, nem a alegria contagiante de quando ela chegava, não há mais nada no quarto vazio senão a certeza de que a perdemos...

                Não existem lembranças, cartas ou fotos, espalhando momentos de felicidade... Não há mais o som das suas músicas preferidas, nem a sua voz acompanhando o refrão...

                Eu não tive escolha e a deixei partir... E ela se foi, cálida como um anjo, sem vontade de voltar... Não pude pegá-la em meus braços e colocá-la em meu colo, apertando-a contra o peito, pra protegê-la de tudo... Nem mesmo seu choro eu pude assistir...

                Eu não me lembro de sua última lágrima, sua última mágoa ela não dividiu... Mas a tristeza em seus olhos deixou muito claro que tudo podia ser diferente.

                Não sei quando foi que ela se decidiu, mas levou na bagagem seu punhado de sonhos... Prometeu nos mandar seu trilhar de aventuras, um livro de histórias que ela prometeu nos contar...

                Já não sinto em meus braços a pressão de seu corpo, o calor que emanava da sua pele branquinha... Já faz algum tempo que a sinto distante, mas somente agora sinto que a perdi.

                Sinto que não a carreguei muito tempo em meu colo, que não afaguei muito sua face e nunca lhe disse como foi bom conhecê-la. Eu achei que bastava lhe agradecer.

                Sinto que não acolhi direito seus sonhos, nem a guiei pela mão muitas vezes... Sinto que eu não pude afastar os seus medos e a suas dores nunca amparei...

                E agora é tarde pra pedir desculpas... Porque esta noite ela se foi...