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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Olhos Tristes

  Eu não corri para o quarto como muitas personagens faziam nos livros que eu lera várias vezes, nem bati a porta... Tinha que fingir normalidade se não queria chamar atenção.
            Nem chorar como nos livros eu podia, tinha que ser silenciosamente, escondida. Porque ninguém entenderia minha tristeza, minha dor. E eu não podia culpá-los... Eu mesma não entendia...
            Sentei-me no sofá do quarto, pegando um livro na escrivaninha, abrindo numa parte que me ajudaria a explicar as lágrimas se fossem flagradas.
            O dia estava lindo! O céu completamente limpo, sem nenhuma nuvem, num azul claro até onde podia enxergar... O sol entrava no quarto da maneira que eu tanto gostava: tocando delicadamente cada móvel, como um abraço suave... Um vento delicioso refrescava o calor. Não podia ser mais perfeito.
            Como uma boa libriana que acredita piamente que horóscopo é bobagem, eu atribuía o paradoxo em minha cabeça e meu estado de espírito aos meus inimigos número 1: os hormônios!
            Os últimos dias tinham sido torturantes... Não era uma dor em meu peito que me incomodava. Era em minha consciência... Minha maldita consciência tão atenta! E ela andava ruidosa ultimamente, talvez pelo fato de que tenha se desacostumado a convivência humana pelo ano de reclusão... O meu torpor!
            Era bem capaz de ter esquecido como era a vida real, o mundo extenso das outras pessoas... Porque era mais fácil aceitar que as histórias que eu lia tinham rumos diferentes dos meus quando eu não podia ver a vida dos outros... Quando meu mundo era tudo o que eu precisava suportar...
            Eu sabia por que não admitia a ninguém além de mim mesma o quanto doía estar sozinha... Eu não queria ouvir o que me diriam. Não queria ser consolada com frases como “é só não procurar” ou “vai acontecer com você” ou “tenha paciência” nem “agora você tem que se concentrar em você mesma”... Porque nunca me consolaram em nada!
            Eu estava sozinha! Era isso que minha consciência gritava sem parar... E isso me fazia odiar cada minuto que minha sádica imaginação gastara nos últimos sete anos com um mundo lindo de fantasias impossíveis!
            Nesse minuto eu não sabia por que chorava mais: se era por odiar ter me rendido tanto às fantasias que não aconteciam comigo, por me permitir que isso me afetasse tanto ou porque eu não tinha ninguém ali que viria correndo me consolar!
            Eu simplesmente chorava agoniada, esperando que a dor saísse de meus olhos, meus olhos permanentemente tristes, sabendo que ninguém entraria preocupado pela minha janela, ninguém me acolheria nos braços, ninguém diria que me amava... Ninguém! Ninguém enxugaria minhas lágrimas carinhosamente, dizendo que me preferia sorrindo... Porque eu não estaria chorando se tivesse alguém...
            Eu não era forte, nem atirada, nem burra, nem sedutora... O que terminaria com a minha angustiante solidão se eu mesma me condenara à ela? Era um fardo muito maior do que eu agüentava e eu tinha de mantê-lo em silêncio, porque era uma gota num oceano de dor em que o mundo se afogava... Mas era minha dor! Era a dor de meus pensamentos, de meu sono, de meus olhos e de meu sorriso... A dor que tornava meus olhos cada vez mais tristes...

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