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sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Uma vida só minha


Eu já falei subjetivamente nos meus textos sobre poesias aqui, mas a partir daqui eu quero falar sério. Eu tenho depressão e agora eu acho que está controlada, mas sempre existem os períodos mais escuros, quando eu não tenho vontade de levantar da cama, quando eu não tenho vontade de viver mais...

Eu decidi falar mais sobre isso agora porque, primeiro, eu não tenho mais tanto medo de admitir que tenho a doença e segundo, porque eu acabei de escutar uma música da KatyPerry, "By the Grace of God" que é exatamente sobre isso e ela começa a música falando que tinha 27 anos, a mesma idade que eu tenho agora e me inspirou. 

Eu vou destacar alguns trechos da música nesse texto, porque eu achei realmente impressionante.


"Pensei que eu não era o suficiente/ Descobri que eu não era tão forte"


Antes de me perceber com a depressão, eu já sabia que existia dentro de mim um monstro que ficava cada vez mais forte e esse monstro sussurrava coisas no meu ouvido. Eu tinha 18 anos, tinha acabado de sair do Ensino Médio, não conseguira entrar no curso que eu queria fazer de faculdade, porque nós não tínhamos dinheiro pra pagar. Eu não me lembro se já existia esses financiamentos, mas eu não fui atrás, não porque a minha vontade não era assim tão forte, mas porque eu não achava que eu era boa o suficiente pra lutar por aquilo. Era o que o monstro já sussurrava em meu ouvido, repetidamente.

Como não consegui entrar no curso que eu queria, fiquei o ano seguinte ao final do Ensino Médio sem estudar, tentando colocar as peças de dentro de mim no lugar mais uma vez, descobrir o que eu queria fazer. Nessa época, eu tentava ao máximo calar as vozes que gritavam que eu não era boa o bastante pra nada e isso consumia toda a minha energia. Eu não era tão forte. Eu mal tinha deixado de ser criança...


"Nós estávamos vivendo em uma linha de falha/ E eu senti que a falha era toda minha"



Minha família também passava por um momento bem difícil (minha mãe estava trabalhando à noite, longe de casa, chegava muito tarde) e eu acho que foi nesse período também que a ansiedade do meu irmão se desenvolveu. Minha depressão e a ansiedade dele batiam de frente todos os dias e a casa sofria muito; apesar de ser mais velha, eu não conseguia pensar com clareza e ser o "adulto" da situação. Eu não queria crescer...


Foi o período em que eu me senti mais perdida e isso me fazia sofrer tanto que eu chorava até dormir todas as noites e pensar doía! Aquela angústia começou a se transformar numa dor física e eu não sabia explicar o que estava acontecendo comigo.


"Não aguentava mais"



Como um dominó empurrando um ao outro como um efeito cascata, de repente só tinha um pensamento em minha cabeça: eu quero morrer! E foi um efeito cascata de verdade porque eu me via planejando como eu faria, eu pensava nas maneiras de tirar a minha própria vida, eu não aguentava mais aquela dor.


Esse é o ponto principal da depressão! A dor chega a ser tão intensa e você se vê tão sem saída que a única saída é morrer... Você não consegue pensar em mais nada. Você não consegue pensar na dor que isso vai causar aos outros, você não pensa nas pessoas que vão te encontrar... Eu comecei a pensar nessa parte, nas pessoas que vão te encontrar, depois de ter assistido ao último episódio do seriado "Os 13 Porquês", que fala sobre suicídio.

Pra que não sabe, o seriado é baseado no livro de mesmo nome e conta a história de Hannah Baker, uma garota que mais do que a protagonista é a narradora. E ela está narrando a sua história justificando porque ela se matou. Ela deixou 13 fitas gravadas com sua história, mas a cena de sua morte é narrada por Craig, que também é quem acompanhamos ouvindo as fitas de Hannah. Na cena, o que mais me impressionou foi quando os pais dela chegam em casa e a encontram, é uma cena muito difícil de se ver! Eu não achava que fosse mexer comigo daquele jeito, porque você acaba se colocando no lugar daquela mãe, que acabou de perder a sua menininha, e não quer aceitar que ela não pode fazer nada.

Mas essa realização só me veio quase 10 anos depois que esses mesmos pensamentos estavam em minha cabeça. Naquela época, eu só queria muito que a dor fosse embora, que a voz se calasse.

Eu não gostava de mim! Eu não era boa o bastante e isso foi um problema. Porque, por mais que eu precisasse de tempo pra me curar, pra colocar a cabeça em ordem, pra encontrar um caminho, a doença não apenas me atrasava mais do que normalmente, mas a vida não queria mais esperar que eu estivesse pronta.

Foi nessas condições que eu fui cursar Letras. Eu fui pra esse curso porque minha mãe fez Letras, porque eu era boa em redação e principalmente porque eu era (e ainda sou) péssima em matemática. Mas eu não tinha conseguido pensar num caminho novo por mim mesma e esse era um caminho que deixava minha mãe feliz e tranquila. Meu maior problema é que Letras é TOTALMENTE focado em dar aula e, como filha de professora e uma pessoa com crises de ansiedade ao falar em público, eu abomino a ideia de ser professora! Sempre, desde criança, eu sempre disse que nunca seria professora, em hipótese alguma... Mas me vi sem saída.

O que acabou acontecendo é que eu fui conseguindo dominar melhor a minha doença e algumas pessoas podem pensar que eu estava melhorando porque não estava mais ociosa, outras podem pensar que era porque eu estava dando um curso a minha vida ou que Letras realmente estava me ajudando. Mas nenhuma dessas respostas é a certa.

Na época em que eu entrei na faculdade, eu ainda estava tão doente que ver outras pessoas da minha idade com vidas próprias, trabalho, namorado, amigos, era muito difícil e eu me sentia sangrando por dentro por isso. Eu queria uma vida também, mas eu nunca fui boa em conseguir uma.

O que realmente começou a me curar e isso vai parecer piegas de dizer, mas eu estou sendo completamente honesta aqui, foi a banda japonesa the GazettE! Não porque misteriosamente eles apareceram na minha porta e me disseram as palavras reconfortantes que eu precisava ouvir, ou só porque suas letras e melodias falavam direto ao meu coração (essa é parte da verdade). Não, o que aconteceu foi que eles despertaram em mim o que eu realmente era boa pra fazer! Por causa do the GazettE, eu entrei no meu maior processo criativo de escrita como nunca tinha entrado!

Foi quando eu comecei a escrever sem parar fanfics do the GazettE pra postar no Nyah! Fanfiction que eu me senti mais forte pra lutar contra a depressão e isso foi tão importante que até hoje eu me pego escrevendo, não importa o que seja, pra não cair de novo naquele abismo!

Muitas das minhas poesias falam sobre esse meu sentimento de estar perdida, não ser boa, não merecer a felicidade e "A Casa das Hostesses Guilty", meu novo livro que será lançado agora em setembro de 2017 também fala de depressão.

Eu me sinto mais forte, mas a depressão é uma doença que nunca vai realmente embora. Ela fica escondida, numa das partes da "casa", talvez um sótão, um porão, dentro de um armário, esperando o momento de fraqueza pra te lembrar que ela ainda mora ali. Mas eu me sinto realmente mais forte e foram precisos 10 anos pra que isso acontecesse, é um processo lento e doloroso de verdade, um caminho cheio de espinhos, cheio de buracos...

E eu quero falar mais sobre esse assunto por aqui, ainda é um assunto muito cheio de polêmica e preconceito que precisa ser debatido várias e várias vezes mais!

Espero ser capaz de conseguir! Desejem-me sorte!
Até a próxima!

Déborah Felipe

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